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Shavorã, União dos Povos e a Força Feminina Indígena do Brasil.

Hoje minhas palavras estão sendo escritas diretamente da minha terra natal, São Paulo (BR). Carregando a vibração, os ensinamentos transmitidos através de palavras doces, profundas e certeiras como flechas bem atiradas que recebi de dois eventos que estive presente neste último fim de semana. Mais uma vez, através do caminho da transformação pelas mãos das mulheres indígenas e aquelas que as acompanham. Desde 2015, acompanho com profunda admiração a evolução do caminho das mulheres da etnia Yawanawa. Uma das maiores líderes do povo da queixada é uma pequena gigante revolucionária chamada Hushahu. Sua flecha acertou meu coração durante uma cerimônia na Colônia 5000, em Rio Branco durante a Segunda Conferência Mundial da Ayahuasca, organizada pela ICEERS. Desde então, venho conhecendo o trabalho de outras mulheres Yawanawa que são alunas da professora Hushahu, e minha admiração só cresce. A conexão com essa linhagem, sua história na atualidade e a beleza dos saitis que venho aprendendo têm sido vital no meu caminho. Mas hoje, quero deixar registrado meu agradecimento à estas mulheres que formaram parte dos dois eventos em que estive presente no último fim de semana (30.08.24). Na sexta-feira, compareci ao evento intitulado MULHERIDADES, GÊNEROS E CULTURAS, com a participação de: Hukena Yawanawá e Nãwãma, Anna Terra Yawalapiti, Jera Guarani Mbya, Bunke Inani e Nixiani Huni Kuin.



Foi um encontro de potência e fortalecimento, que uniu raízes ancestrais para dialogar sobre a luta destas mulheres envolvendo questões de gênero e transformações culturais. Ao se apresentarem e exporem um pouco da sua trajetória, ficou claro que cada uma ali carrega uma jornada de luta de quebra de tabus, que passa por acontecimentos que são novidade no território indígena de onde elas vêm. Acontecimentos como: assumir a relação e casamento com outra mulher, romper um casamento e separar-se dos pais dos seus filhos, estabelecer uma associação de 43 lideranças femininas ao longo do seu território, entrar para dieta com plantas mestras que antes somente estavam abertas para homens, participar da vida espiritual consagrando Uni e liderando cerimônias e dietas, e especialmente libertar-se da possessão dos seus corpos e destinos por parte das lideranças masculinas dos seus povos - são exemplos do resultado da luta destas mulheres.


Juliana Germano, Alice Haibara, Ana Terra, Dominique Nawama, Hukena Yawanawa, Jera Guarani e Bunke Inani

Muitos dos relatos compartilhados ali carregavam conteúdos densos, dolorosos e difíceis. Histórias de abuso, estupro, casamento na infância, casamentos arranjados, mais abusos, mais estupros, pedofilia e outras atitudes, práticas e valores que na atualidade já não são toleradas pelas sociedades longe das aldeias foram compartilhadas já de um lugar interno de quem rompeu com estas estruturas e seguem construíndo o caminho para as novas gerações de mulheres indígenas que já estão nascendo e crescendo com mães, tias e futuras avós que carregam suas almas libertas do que as aprisionaram no passado. Mulheres que se inspiraram serem donas dos seus corpos e soberanas na autonomia sobre seus destinos; que caminham pelo caminho da beleza e que o lugar de liderança a elas também pertence.


Dominique e Hukena cantam Tonguerê, do seu primeiro álbum. "Já vamos de 6 anos de Tonguerê, brincou Hukena"

Diferentes perspectivas ali foram compartilhadas, desabafos e dificuldades se permitiram expressar. Houve muita sutileza na condução da conversa por parte da antropóloga Alice Haibara e da Psicóloga clínica Juliana Germano - duas mulheres cujo trabalho está diretamente ligado à estas mulheres e as gerações que com elas vem sendo plantadas no mundo. São elas todas, cada uma a sua maneira, mulheres medicina. Para mim, toda potência e promessa de um novo amanhã estavam vibrando forte bem na minha frente, literalmente em alto e bom som.


No dia seguinte, tivemos a honra de participar de uma cerimônia guiada pela dupla Shavorã, com a participação de Bunke e Nixiani. Um grupo de 150 pessoas que reuniu-se em um a sítio que é um centro que teve origem na União do Vegetal, e que estava abrindo suas portas pela primeira vez em mais de 20 anos de existência para um trabalho indígena. Pela primeira vez em duas décadas no caminho com estas plantas mestras em diferentes Países e contextos, me senti pertencente a um grupo onde a diversidade de gênero era uma realidade.

Parte do grupo da cerimônia União de Povos, guiado por Shavorã no Sítio Irmandade Divina, interior de São Paulo.

Basta ler um dos parágrafos da mensagem da organização da cerimônia para entender o tipo de espaço que está sendo criado, nutrido e oferecido pelas Shavorã e sua equipe: "Nossa cerimônia é referência de respeito, cuidado e acolhimento para a comunidade LGBTQIAPN+ e é extremamente importante que todas as pessoas que estiverem presentes saibam respeitar essa diversidade de corpos, gêneros e realidades. Qualquer atitude de desrespeito deve ser comunicada para a organização e medidas serão tomadas. Agradecemos a colaboração de cada pessoa presente, é responsabilidade de todos os participantes que nossa cerimônia seja um momento de cura e cuidado para todes, todas e todos."


Weaving Wholeness (eu), Alma Luz Adélia e Bruna Marques, novas amigas de cerimônia.

A manifestação da missão de Hukena e Nãwãma, é que a partir de sua união, rompam estruturas até então arraigadas. Shavorã vem conquistando força e independência a partir da voz, da arte, da cultura e da co-relação com as plantas. Buscam fortalecer outras mulheres, principalmente indígenas. Para que assim, cada vez mais, as mulheres ocupem espaços de reconhecimento e respeito. Rompendo estruturas e honrando as raizes saudáveis da ancestralidade (indígena e afro-brasileira) que correm em suas veias, dando asas à um novo pensamento que possa transformar tais estruturas. (Material Shavorã)









 
 
 

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© 2023 por Gabriela Dworecki Domingues

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